sexta-feira

AÚDIOS: Sob o signo do silêncio - Literatura e Psicanálise.


Cartaz original da Palestra.

Evento do Movimento de Experiências Literárias - MEL, dia 05 de setembro de 2008, na Academia Pernambucana de Letras. Participaram como conferencistas a Profª.Drª. Avanilda Torres, o Grupo de Leitura e Estudo Tertúlias Joyceanas - Literatura, Linguística e Psicanálise e o Profº.Drº Lourival Holanda.









Palavra da Professora e Doutora em Teoria da Literatura Avanilda Torres (UPE):


"Silêncio como estado de quem se cala ou privação da fala é tema de fecunda e inquietante motivação em várias áreas do conhecimento humano. Não escapa à filosofia, à antropologia, à psicanálise e encontra solo fértil no terreno da literatura disseminado nas diferentes possibilidades de criação textual, particularmente onde autor/narrador e personagem interagem.

Sob o signo do silêncio, livro do escritor e Professor Dr. Lourival Holanda, publicado pela Edusp em 1992, presta-se, sobremaneira, a um debruçar-se sobre essa questão. Mestre, porque versado no seu saber e na competência com que o compartilha, Lourival, à semelhança de Calvino, sabe que é necessário valer-se das míticas sandálias aladas para tocar com a necessária delicadeza um tema de tal densidade.

Para o autor em questão, silenciar é dizer por outra via – já que o silêncio potencia o que ali luz, presente, pelo fulgor mesmo de sua ausência. E essa ausência fulgurante é poética e criticamente trabalhada numa analogia com Graciliano Ramos e Albert Camus tendo sua base nas obras Vidas Secas e O Estrangeiro. Não cabe ao autor de Sob o signo do silêncio inquirir precisas fontes e influências, mas sim buscar nas duas obras uma direção comum. Tanto Graciliano quanto Camus, distantes geográfica e culturalmente, estão singularizando uma escritura que reflete os sismos sociais, captando as ondas de seu tempo, antecipando mudanças no espírito literário. Pela exploração de um silêncio, sob a forma/fôrma de um silêncio, cada personagem protagonista assinala uma singularidade. Fabiano, de Vidas secas, está preso ao peso da tradição, da carência de palavra para a apropriação do mundo, despido da emoção que Graciliano procura extirpar do texto. Mersault, de O estrangeiro, faz do seu silêncio desinteresse, desapropriação do mundo, porque percebe a carga de mentira que a linguagem comum comporta, nisso levado pelo processo de silenciar a adjetivação, proposital em Camus. Diante da palavra, desafiados pela palavra, Graciliano e Camus buscam um novo modo de contar, de driblar o historicamente instalado, ainda que à custa de trabalhada contenção, do sacrifício da emoção supérflua, possibilitando um vazio passível de criativos preenchimentos de sentidos".


Palavra da Psicanalista Rita Smolianinoff (Tertúlias Joyceanas): O Silêncio em Psicanálise.

“Não há silêncio... interior. O borborinho dos sons se entrecruzando, fazendo surgir novos significantes, remetendo o Sujeito a uma confrontação com seu objeto perdido e jamais alcançável, acaba transbordando pensamentos, idéias, juízos. E, mesmo sem falar o homem, o seu inconsciente fala. Não há silêncio no inconsciente freudiano.

Mersault e Fabiano lidam com palavras de modo parcíssimo. Enquanto o primeiro as conhece bem e não as utiliza por crê-las inócuas, o segundo faz o mesmo, acreditando não conhecê-las. No primeiro, abundam palavras no silêncio, no segundo, escasseiam. Cada um emudece a seu modo. Visitamos seu silêncios singulares através das magistrais criações de Camus e Graciliano, dos fantásticos monólogos interiores de seus personagens. Algo de que o escritor Lourival Holanda nos fala de maneira brilhante.

A tarefa do analista é ouvir as palavras que não são ditas, aquelas que escondem a Verdade do sujeito: Verdade que jamais se revela por inteiro – Aletheia. É na hiância dos significantes que o Sujeito ex-siste, consiste. Poderíamos pensar existir nessa hiância um silêncio afanísico, aquele que faz existir o inconsciente?

A tarefa do escritor é corporificar as palavras, transbordá-las em seus sentidos possíveis, alcançáveis. Imagináveis. É criar as personagens, dar-lhes voz, mesmo no silêncio. Mersault fala silenciosamente, seu pensamento conta as horas. Fabiano também o faz. Poderíamos ver nesses silêncios a manifestação da palavra plena do personagem?
Parafraseando Lacan, só se pensa com palavras".



Este evento contou com a cobertura jornalística do Diário Associados de Comunicação - Diário de Pernambuco
(CONFIRA A REPORTAGEM NA ÍNTEGRA). e do Grupo de Intersecção Psicanalítica do Brasil (CLIQUE AQUI).

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